Devaear Orbicular

Sim - corou dizendo.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Devanear orbicular

Eis o dia mais estranho da minha vida. Não o de hoje, mas o que vou passar a contar. A primeira vez que tive a sensação que a minha vida gozava comigo, já foi há algum tempo. Porém, senti recentemente e com toda a certeza que estava mesmo a fazer pouco de mim. Ás vezes penso que se os homens e os macacos fizerem malabarismo com papaias, os gansos poderão assistir a uma corrida de caracóis marinhos. Esta frase não faz sentido, pois não? Nem a minha vida.
Sei que todas as pessoas têm um papel especial na nossa vida, que são colocadas lá com um qualquer propósito, ainda que não saibamos qual. Aquelas que levam a vida a fazer-nos merdas, servem para que nós aprendamos com isso, aprendamos a defender-nos. As pessoas que nos apoiam, que nos marcam pela positiva, das quais sentimos saudades quando não estão presentes (e ás vezes quando estão…), têm um lugar especial no coração, ajudam a colorir o cinza da vida. Todas as vidas são cinzentas, o nosso papel é colori-las e dar-lhes forma, rumo, sentido.
Então e o papel daquelas pessoas com que nos cruzamos sistematicamente, sem nunca termos trocado uma palavra ou gesto, absolutamente nada? Aquelas pessoas que encontramos por acaso no elevador, ou no centro comercial, ou na praia, ou onde quer que seja, que não nos dizem nada, mas que reparamos na sua existência e deixam imediatamente de fazer parte do grande grupo de figurantes presentes nas nossas vidas. Aquelas pessoas que passam a integrar o grupo das personagens secundárias. Porquê? Por que raio é que se cruzam connosco? São omnipresentes? São anjos da guarda? São demónios? São alguma coisa? Não são nada?
È impressionante pelo facto de nunca ter contactado com uma pessoa, vê-la mais a ela ao longo do dia do que á minha própria mãe. Ter mais imagens mentais dessa pessoa na rua, do que tenho da minha família. O que se passa comigo? Talvez tenha a mania da perseguição, talvez tenha a absoluta certeza disso. Mas pior do que ter a mania da perseguição, é ter a certeza de que se é perseguido. Não de propósito, não pela dita pessoa, mas pelo destino, ou que quer que seja. Eu teimo em afastar-me. A vida teima em aproximar-me. É como nos desenhos animados, em que a personagem principal foge da bigorna e apanha sempre com ela em cima.
Não sei se é com intenção ou por acaso, o que é que isso interessa? Não consigo compreender, já me dei ao trabalho e penso que muitos filósofos também (não, não me estou a integrar na categoria de filósofa). A metafísica nasceu com o homem, tal como as perguntas existenciais que nunca tiveram qualquer resposta provável. Não que a minha questão seja existencial. Mas provoca desconforto, é aquela comichãozinha atrás da orelha. Preciso de uma ingestão de sedativos, a ver se me acalmo, se penso noutra coisa, se me fecho num armário e penso em coisas bonitas, tal como o texto que me pediram para o jornal. Este não serve, é demasiado pessoal, não é crítico e eu não o escrevo com intenção de o tornar público, pelo menos tão público como um jornal. Escrevi-o para libertar a alma, para me libertar de mim. Para que a ave de rapina que me consome vorazmente o cérebro descanse, voe e me deixe em paz. Para que sentir melhor a luz do sol e o perfume do fumo dos carros, que devido à constipação, me tem escapado nestes últimos dias.
Não faz sentido, nada faz sentido, nada ME faz sentido. Pode ser que algum dia venha a fazer, mas quando fizer eu não terei nada para escrever. A confusão rege o homem, a caneta ou, neste caso, o portátil. Ninguém se questiona quando tem a certeza de tudo. Ninguém tem a certeza de tudo. E mesmo se tivesse não gastaria folhas brancas com as suas certezas. Ninguém gosta de ler certezas, certezas são para maricas. E para as focas.
Pode ser que os cruzamentos diários se extingam ou que permaneçam, com ou sem sentido. Pode ser que eu perceba qual é o objectivo disto tudo. Pode ser que me canse de me falar sozinha e acompanhada. Acompanhada porque tenho a folha ou doc. a ouvir-me. Sozinha, porque sei que ninguém vai ler. E se ler, vai achar que é melhor o tal sedativo que eu referi umas linhas acima. Até que o mundo me chame à parte e me peça desculpa pelo que tem feito. Reflicta e se canse de me cansar. E me deixe descansar. E me deixe.
Então de se de repente tudo começar a fazer sentido? A intriga que havia dentro de mim, se transformar em suores frios, em tremores, em nervosismo, em afecto? E se de um momento para o outro eu começar a achar piada á situação? Então e seu eu já tiver achado piada e estar demasiado envolvida “em piada” para poder ignorar?
Sedativos cor-de-rosa…

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